FICHAMENTO
II
CYSNEIROS, Paulo Gileno. NOVAS TECNOLOGIAS NA SALA DE AULA: MELHORIA DO
ENSINO OU INOVAÇÃO CONSERVADORA?. Informática Educativa Vol. 12, No, 1,
1999. UNIANDES – LIDIE. pp. 11-24
Resumo:
O
autor analisa a utilização das mídias digitais na educação por meio de
questionamentos dos aspectos positivos e negativos referentes à importância que
se dá aos meios em detrimento dos métodos. É abordado o conceito da “inovação conservadora”,
o qual exemplifica que na maioria dos casos observados, o papel de ferramentas
de tecnologia atualizada não foi capaz de produzir efeitos diferentes dos das
aulas tradicionais, com métodos e materiais simples.
2)
Citações principais do texto:
“Penso
na realidade cotidiana de grande parte das escolas públicas do nosso país e
mesmo da América Latina. São escolas onde situo minha experiência, nos estados
do norte e nordeste e nas regiões rurais, que ainda sofrem males consideráveis.
(. . .) escolas que servem a comunidades carentes que nem sempre as consideram
como suas e que não dispõem do recurso tecnológico mais fundamental que é uma
biblioteca razoável.” (p. 1).
“Nas
grandes cidades, (...) escolas tem pouco espaço físico, são ruidosas, quentes e
escuras. (. . .) O professor encontra-se sobrecarregado com aulas em mais de um
estabelecimento, falta-lhe tempo para estudar e experimentar coisas novas,
recebe baixos salários. Em tais escolas tenho encontrado pessoas ensinando
matérias que não dominam, como também casos incipientes de alcoolismo e um
semi-absenteísmo camuflado, com o professor evitando sempre que pode a sala de
aula ou fazendo de conta que ensina, em parte resultado de um esgotamento
profissional prematuro”. (p. 2).
“O fato de treinar professores em cursos
intensivos e de se colocar equipamentos nas escolas não significa que as novas
tecnologias serão usadas para melhoria da qualidade do ensino. (. . .) tenho
observado formas de uso que chamo de inovação conservadora, quando uma ferramenta
cara é utilizada para realizar tarefas que poderiam ser feitas, de modo
satisfatório, por equipamentos mais simples (atualmente, usos do computador
para tarefas que poderiam ser feitas por gravadores, retroprojetores,
copiadoras, livros, até mesmo lápis e papel”. (p. 5).
“(.
. .) Não quero com isso afirmar que tais tecnologias de exposição não são
úteis. São sim, nas mãos de mestres criativos, dentro de contextos apropriados.
Podem ser usados quando se deseje que o aluno não se distraia copiando detalhes,
pedindo-se logo depois que ele ou ela trabalhe com o material impresso copiado
do quadro eletrônico.” (p. 6-7).
“(.
. .) Tal tipo de mídia pode também reforçar no aluno uma falsa sensação de ter
aprendido a lição, pois tudo que o mestre escreveu está ali, gravado, do jeito
dele, com os mesmos espaços, tamanhos, etc. (. . .) Como me disse uma vez um
experiente professor de Química, há uma enorme distância entre a axila (onde o
aluno coloca o caderno de anotações após a aula) e a cabeça”. (p. 7).
“(.
. .) Como ocorre em outras áreas da atividade humana, professores e alunos
precisam aprender a tirar vantagens de tais artefatos. Um bisturi a laser não
transforma um médico em bom cirurgião, embora um bom cirurgião possa fazer
muito mais se dispuser da melhor tecnologia médica, em contextos apropriados”.
(p. 8).
“(.
. .) devido ao sentimento de inadequação, não ocorre ao professor que o mais
importante é o ato de pensar com determinadas informações, não o acesso
indiscriminado a qualquer informação. [ . . .] Para a formação básica de uma
criança e para resolução dos problemas que alguém encontra no dia-a-dia, as
informações mais relevantes são aquelas encontradas na própria comunidade,
acessíveis através de meios mais simples como jornais e pelo contato humano no
próprio grupo social, não aquilo que está ocorrendo em Nova Iorque ou em Tóquio
colocado na Internet. [. . .] Embora a Internet seja um recurso com muito
potencial para determinadas atividades educativas, ela também pode der mais um
fator de colonialismo cultural, pois estamos recebendo a informação daqueles
que tem condições de colocá-las nos computadores, reduzindo nossa presença e
ampliando o alcance do poder de suas ideias, com todos os fatores associados do
formato hipertexto, da velocidade, de multi-representações”. (p. 9).
“(...)
a sabedoria de um professor de uma escola rural, ou de um velho pescador da
comunidade, pode ser mais importante para a formação da identidade da criança e
para sobrevivência da cultura do que toda a informação que é produzida
diariamente nos lugares sofisticados do planeta”. (p. 10).
“(. . .) sinto falta de uma abordagem
coerente, que tenha começo, meio e aponte para algum fim. Esta necessidade
torna-se mais saliente quando trabalhamos com a formação de professores em Informática
na educação, que aprendem habilidades diversas e são expostos a teorias e
pontos de vista muitas vezes desconexos”. (p. 10).
“Nossa
experiência da realidade é transformada quando usamos instrumentos {Ser Humano
> (máquina) > Mundo}. Através do instrumento há uma seleção de
determinados aspectos da realidade, com ampliações e reduções. A amplificação é
o aspecto mais saliente e pode nos deixar impressionados, maravilhados, ao
experimentarmos coisas (ou aspectos de objetos conhecidos) que não conhecíamos
antes, com nossos sentidos nus. A redução, ao contrário, é recessiva e pode
passar despercebida, uma vez que não ocupa necessariamente nossa consciência,
impressionada com o novo”. (p. 11).
“(.
. .) O fato de ‘inteligência’ ser um conceito amplo, uma realidade construída,
não visível, um terreno fértil para interpretações enganosas, torna-se fácil
disseminar a crença na sua ampliação pelo uso de instrumentos”. (p. 12).
3)
Comentários(parecer e crítica):
O
autor reforça a ideia de que a qualidade de ensino deve ser medida não apenas
pela presença de instrumentos, mas da maneira como elas são utilizadas – dando
preferência à simplicidade das relações humanas, da importância dos valores
culturais e da necessidade de um diálogo permanente acerca da utilização de
diversas tecnologias na educação, pois estas estão em constante mudança, e é
necessário analisar criticamente como inseri-las da melhor maneira.
4)
Questionamentos (questões levantadas e dúvidas):
Com
o passar dos anos, os erros advindos da má utilização de tecnologias no ensino
se repetem, ainda que tenha havido boa vontade por parte dos responsáveis pelas
políticas de implementação desses programas. Isso é visto no texto, quando o
autor fala de experiências próprias e as vividas por outros autores
pesquisados, algumas de muitas décadas atrás. São raros os exemplos de planos
bem elaborados, que voltaram os esforços para a metodologia e não para a
ferramenta a ser utilizada. Fica ainda a dúvida de como adequar a gama de
ferramentas disponíveis a um ensino que preze pelo conteúdo verdadeiramente
necessário à formação intelectual dos estudantes/ cidadãos.
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